Ossos no Marrocos indicam que humanos fabricam roupas há 120 mil anos

Quando encontraram ossos na Caverna Contrebandiers, no Marrocos, pesquisadores pensaram em estudar a dieta dos ancestrais humanos que viveram por lá no Pleistoceno. Porém, eles logo notaram que as ossadas não eram de restos de refeições, mas, na verdade, de ferramentas usadas para fabricar tecidos de couro e peles de animais.

Detalhes sobre os 62 utensílios foram descritos em um estudo, publicado em 16 de setembro no jornal científico iScience. As ferramentas, feitas de ossos de cetáceos –
animais como baleias, golfinhos e botos – foram datadas com idades entre 120 mil a 90 mil anos.

Entrada da caverna Contrebandiers, no Marrocos (Foto: Contrebandiers Project, 2009)
Entrada da caverna Contrebandiers, no Marrocos (Foto: Contrebandiers Project, 2009)

As ossadas, descobertas em 2011, eram esculpidas em várias formas regulares, alisadas e polidas. Ao lado delas estavam ossos de mamíferos como raposas-de-rüppell (Vulpes rueppellii), chacais-dourados (Canis aureus) e gatos selvagens (Felis silvestris). Havia indícios de que as peles desses animais haviam sido removidas.

“Encontrei um padrão de marcas de corte nos ossos de carnívoros da Caverna Contrebandiers que sugeria que os humanos não estavam processando os carnívoros para obter carne, mas sim esfolando-os para obter seus pelos”, conta Emily Hallett, líder da pesquisa, em comunicado.

Escavações na caverna Contrebandiers, no Marrocos (Foto: Emily Yuko Hallett 2009)

Escavações na caverna Contrebandiers, no Marrocos (Foto: Emily Yuko Hallett 2009)

Entre os achados, ganhou destaque uma ponta de um dente de cetáceo, moldada com uma ferramenta para esculpir pedras. O objeto marca o primeiro registro de uso de um dente de mamífero marinho por humanos. E mais: é a única evidência de um mamífero marinho do Pleistoceno encontrado no Norte da África.

Peles secando ao sol em Fez, no Marrocos (Foto: Emily Yuko Hallett, 2009)
Peles secando ao sol em Fez, no Marrocos (Foto: Emily Yuko Hallett, 2009)

As descobertas sobre a fabricação de tecidos revelam que a pele e o couro de animais podem ter tido um papel importante para que nossos ancestrais se mudassem bem agasalhados para áreas mais frias do planeta. Contudo, pouco se sabe sobre a tradição de roupas, dado que vestígios são dificilmente preservados, principalmente em depósitos de 100 mil anos ou mais.

Apesar dos registros serem escassos, estudos com piolhos de tecidos sugeriram que esses materiais surgiram há ao menos 170 mil anos na África, segundo Hallett. A pesquisadora pretende em breve colaborar com outros estudiosos da área e planeja utilizar ferramentas de osso em experimentos controlados para entender como era a fabricação dos itens no Pleistoceno.

Fonte Galileu

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