Projeto brasileiro dá vida a Anne Frank e outras vítimas do Holocausto

Estudantes do Rio de Janeiro recorreram ao metaverso e a técnicas de deepfake para “recriar” três jovens judeus a partir de imagens e de seus diários.

 

Estima-se que, entre 1933, marco da ascensão nazista ao poder na Alemanha, até 1945, final da Segunda Guerra Mundial, cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados em campos de concentração e extermínio comandados pelo regime de Adolf Hitler.

Entre as vítimas do que ficou conhecido como Holocausto estavam crianças e jovens. Embora alguns tenham ficado conhecidos, como a alemã Anne Frank, há quem relativize os horrores sofridos pelas vítimas do nazismo.

Para resgatar essas memórias, um grupo de estudantes do Rio de Janeiro recorreu aos últimos avanços da tecnologia. “A gente conversou com uma professora de história da PUC-Rio que nos alertou que a memória sobre as crianças do Holocausto está sendo perdida. Quando se fala da Segunda Guerra muito se pensa sobre a morte de adultos”, lembra Clara Thaís Maciel e Silva, aluna de Sistemas de Informação na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e uma das idealizadoras do projeto Vulto.

A iniciativa consiste em um memorial situado no metaverso, que traz deepfakes de jovens vítimas do nazismo. Esse recurso possibilita, a partir de fotos e bancos de imagem, criar avatares idênticos aos de uma pessoa que realmente existiu, inclusive fazendo-a se movimentar e falar.

Foi o que os estudantes do Rio fizeram com três jovens judeus: Anne Frank, que passou mais de dois anos em um esconderijo em Amsterdã, na Holanda, e de onde escreveu um diário que ficou mundialmente famoso; Eva Heyman, que escreveu um diário sobre a ocupação nazista na Hungria; e o polonês Julian Kulski, que entrou para a Resistência e registrou em diário os horrores da guerra.

Para além de recriar essas pessoas, os alunos contrataram três dubladores para dar voz de acordo com os movimentos faciais das fotografias. Assim, os visitantes do memorial Vulto conseguem ouvir os relatos como se fossem diretamente das vítimas.

“Colocar os relatos do diário na fala dos autores deles agrega um certo valor porque consegue levar as pessoas que estão aprendendo sobre os corridos para dentro da situação”, comenta Erik Araújo de Alencar Oliveira, estudante de Design da PUC-Rio e um dos idealizadores do projeto.

Além de Clara e Erik, também participaram da iniciativa João Pedro Monteiro Maia, que estuda Ciência da Computação na PUC-Rio, e Stella Maranhão de Brito, que cursa Engenharia da Computação na mesma universidade.

Tirando a ideia do papel

A partir de uma pesquisa feita junto a professores de história da PUC-Rio, os estudantes selecionaram personagens que escreveram diários e viveram experiências diferentes. No caso de Anne Frank, os alunos deram voz a ela citando trechos de sua obra, em que relata a vida no anexo junto a sua família e outros judeus. Anne morreu perto do fim da guerra, no campo de concentração-extermínio de Bergen-Belsen, na Alemanha.

Já a húngara Eva Heyman, de 13 anos, relata a invasão dos nazistas na Hungria, em 1944. Assim como Frank, ela morreu no campo de extermínio e teve seu diário publicado após sua morte. No memorial Vulto, a jovem relata episódios de sua vida pessoal, como conversas com seu pai sobre a guerra.

Ao contrário de Heyman e Frank, o jornal do polonês Julian Kulski não foi publicado após sua morte. Ele sobreviveu e, em suas anotações, relatou sua participação, com apenas 10 anos de idade, na resistência ao Nazismo na Polônia e as insistências de seu pai para que não participasse de guerrilhas. Kulski morreu em 12 de agosto de 2021, aos 92 anos.

“As pessoas que sobreviveram à guerra estão basicamente todas mortas ou falecendo”, observa Clara Thais. “A gente se preocupou em manter as memórias de quem já morreu vivas. A gente não pode deixar isso [o Holocausto] cair em esquecimento, para ele nunca mais acontecer.”

O projeto Vulto é uma produção experimental cultural do ECOA Puc-Rio — uma plataforma de cursos online que une jovens talentos de várias universidades para criar projetos em prol da sociedade — e foi patrocinado pela Apple Developer Academy.

 

 

 

 

Fonte: Revista Galileu

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