
A pesquisa testa a privação de energia das células cancerosas, evitando assim seu crescimento.
A pesquisa pré-clínica, que apresentou respostas animadoras, foi realizada em amostras de tecido humano, linhagens de células humanas e camundongos. Se os resultados forem confirmados também nos ensaios clínicos com humanos, o tratamento poderá ser usado em crianças com meduloblastoma, um tumor cerebral de alta incidência em crianças.
Cerca de 70 destes casos são diagnosticados no Reino Unido por ano. A taxa de sobrevivência é de 70% nos pacientes que o tumor não se espalha, sendo quase sempre fatal em casos recorrentes.
A pesquisa, publicada na revista Nature Communications, analisou o hexafosfato de inositol (IP6), um composto de ocorrência natural presente em quase todas as plantas e animais. As análises mostraram o modo como ele inibe o meduloblastoma e pode ser combinado com a quimioterapia para matar as células cancerígenas.
A principal pesquisadora do estudo, Silvia Marino, afirmou que o meduloblastoma ocorre em quatro subgrupos distintos (WNT, SHH, G3 e G4). “Apesar de nosso crescente conhecimento das diferenças moleculares entre esses subgrupos, as opções atuais são cirurgia junto com radioterapia e/ ou quimioterapia para todos os pacientes. Precisamos desesperadamente entender os principais eventos moleculares que impulsionam o crescimento do tumor em cada subgrupo para projetar novos tratamentos direcionados que sejam menos tóxicos.”
“O meduloblastoma G4 é o menos compreendido de todos os subgrupos, apesar de ser o mais comum e associado a mau prognóstico”, afirmou a pesquisadora. “Identificamos uma nova maneira de este tipo de meduloblastoma ser capaz de se adaptar ao seu metabolismo e crescer de forma descontrolada. Também descobrimos como esse suprimento de energia pode ser bloqueado.”
As células normais são capazes de ligar e desligar genes específicos conforme necessário para controlar seu crescimento. Conhecido como epigenética, esse processo pode ser interrompido no câncer, levando à superprodução de proteínas específicas que contribuem para o desenvolvimento e crescimento de um tumor.
Já se sabe que alterações epigenéticas podem contribuir para o desenvolvimento do meduloblastoma. Além disso, uma proteína envolvida neste processo — conhecida como BMI1 — é encontrada em níveis elevados em inúmeros tipos de cânceres, incluindo tumores cerebrais. No meduloblastoma, níveis elevados são encontrados no subgrupo G4, onde é sustentado o crescimento do tumor.
A equipejá havia demonstrado que, além de altos níveis de IMC1, as células de meduloblastoma G4 também carecem de uma proteína chamada CHD7. Acredita-se que essa combinação de alterações, ou assinatura, contribua para o desenvolvimento do meduloblastoma G4.
Agora a equipe mostrou que altos níveis de BMI1 permitem que as células cancerosas adaptem seu metabolismo e cresçam agressivamente. Esta alteração pode ser revertida tratando as células com hexafosfato de inositol (IP6). A equipe também mostrou que, quando o IP6 foi combinado com a quimioterapia — neste caso a cisplatina –, eles observaram um aumento na capacidade de matar as células cancerígenas em camundongos.