Comunidade cria espaço para atender indígenas com Covid-19, devido à falta de leitos em hospitais de Manaus

A Unidade de Apoio aos Povos Indígenas (Uapi) foi instalada no Parque das Tribos, na área rural de Manaus, há duas semanas. Vanda Ortega – a primeira mulher a ser vacinada no Amazonas contra o coronavírus – está à frente da iniciativa.
A falta de leitos em hospitais de Manaus, após um novo pico de internações por Covid-19 nas últimas semanas, levou a comunidade do Parque das Tribos, na área rural da cidade, a criar um espaço para atender indígenas diagnosticados ou com sintomas da doença. O espaço, chamado de Unidade de Apoio aos Povos Indígenas (Uapi), foi instalado há duas semanas e já atendeu mais de 50 pessoas que vivem no local ou vieram de outras comunidades no Amazonas.
Vanda Ortega – a primeira mulher a ser vacinada no estado contra o coronavírus – está à frente da iniciativa. Segundo ela, a comunidade reúne indígenas de 35 etnias e conta com mais de 3 mil residentes. A unidade de atendimento foi criada a partir de campanhas nas redes sociais e ajuda da comunidade.
O G1 esteve no local e visitou as instalações. Um posto de enfermagem, além de tendas, foram dispostos do lado de fora da unidade. Já na parte interna, redes substituíram leitos, criando assim um clima mais aconchegante.
“Nós iniciamos uma campanha nas redes sociais para que as pessoas pudessem nos ajudar a construir esse espaço, com um pouco de estrutura para cuidar dos nossos parentes aqui. Nas duas primeiras semanas de janeiro, nós tivemos 56 pessoas com sintomas de Covid, e dessas, 32 fizeram o teste e tiveram o resultado positivo. Graças a essa campanha a gente conseguiu oxigênio, redes, medicamentos, proteção e EPIs, para que a gente pudesse cuidar dos nossos parentes aqui dentro da nossa comunidade mesmo”, explicou.
Segundo ela, o fluxo tem sido intenso na unidade. A média, por dia, é de 20 a 25 atendimentos. A equipe de 11 pessoas, entre técnicos e enfermeiros, chegou a receber orientações e a visita de alguns médicos e fisioterapeutas, mas a maior parte do trabalho é feita pelos profissionais indígenas da própria comunidade.
“Com a campanha, alguns médicos vieram na comunidade dar orientação e estão vindo fazer a avaliação dos nossos parentes, assim como fisioterapeutas, que vieram dar esse apoio, porque só estava a gente mesmo. Temos aqui técnicos de enfermagem formados, enfermeiros, que atuam fora da comunidade. E a gente captou todos esses parentes que também estão estudando medicina, enfermagem, para somar esforços. Uma vez que um indígena se forma, certamente ele vai voltar para cuidar dos seus parentes. E é isso que a gente tem feito aqui”.
Além dos remédios usados para combater a Covid-19, o grupo também apela para uma medicina tradicional, com chás de folhas e ervas próprias da cultura indígena, como o jambu. Segundo Vanda, o tratamento não elimina os remédios. Pelo contrário, fortalece.
“Aqui, além dos remédios indicados para tratamento da doença, temos feito uso das nossas ervas medicinais, extremamente importante durante esse cuidado, porque muitos indígenas não gostam de tomar remédios de farmácia. A gente entra com orientação sobre a importância de fazerem uso dos remédios ‘da farmácia’, aliado com a nossa medicina tradicional”.
Mas, ela implora para que as doações continuem. Além do auxílio médico, a técnica de enfermagem pede a instalação de uma UBS indígena no local e antibióticos.
“Precisamos que tenha um médico diariamente fazendo orientações e a avaliação dos nossos parentes, além de medicações também. É importante que as pessoas continuem entrando em contato conosco para garantir alimentação, principalmente dos nossos pacientes, EPIs e remédios. É uma demanda que a gente vai precisar de muito apoio”.
Vanda também ressalta que o fato de já ter sido vacinada ajuda no trabalho. No entanto, ela luta para que todos os indígenas que vivem no local também possa ter a oportunidade ser imunizados contra a doença.
“A gente sabe que as populações indígenas em contexto de cidade, nesse primeiro momento, estão fora da programação. A propriedade são os indígenas aldeados, mas a gente entende a importância das populações indígenas em contexto de cidade por conta da vulnerabilidade que esses povos se encontram dentro da cidade”.

Manicure fala sobre atendimento em comunidade indígena

A manicure Tânia Nascimento, de 30 anos, trouxe os avós, que moram na Comunidade São Thomé, no Rio Negro, para serem atendidos no local. Ela soube da iniciativa e pediu que os dois fossem encaminhados para a Unidade o mais rápido possível. Eles chegaram na segunda-feira (25). A avó já apresenta sinais de melhora. Já o avô, por conta do agravamento do quadro de saúde, foi levado para uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), na cidade.
“Eu achei aqui muito melhor que os hospitais, porque os hospitais estão parecendo um cenário de guerra. E aqui não, aqui é mais tranquilo, uma área aberta. A gente não tem tanto contato com outras pessoas. A minha avó tá reagindo bem, acho que não falta muito para ela pegar alta. Já o meu avô, foi levado para o hospital”, relatou.

Caos na saúde

O Amazonas vive um novo colapso no sistema de saúde após um aumento significativo no número de internações por Covid-19. A taxa de ocupação de leitos clínicos e UTIs da rede pública de Manaus está acima de 90%. O número também se repete em relação às unidades privadas. Até a quarta-feira (27), 459 pessoas aguardavam internação.
Nessa semana, o Governo do Amazonas reabriu o Hospital Nilton Lins, para pacientes com quadro médio ou grave da doença, e nessa quarta (27), foi aberto um hospital de campanha no estacionamento do Pronto-Socorro Delphina Aziz. Com as novas unidades, o governo espera aumentar a assistência aos doentes acometidos pela doença. Em todo o estado, já são mais 247 mil casos confirmados de Covid, sendo 56 mil apenas em janeiro de 2021.

Fonte: G1 – AM.

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