Especialistas explicam a guerra na Ucrânia

Em questão de dias, a invasão da Ucrânia pela Rússia se transformou em um dos maiores conflitos militares na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. A “névoa” da guerra pode obscurecer nossa visão de quem está ganhando, quem está perdendo e quanto tempo tudo isso vai durar. Embora ninguém possa fornecer respostas definitivas, a pesquisa acadêmica sobre a guerra nos dá alguns indícios sobre como o conflito na Ucrânia pode se desenrolar.

Pesquisas sugerem que o caminho para a guerra se assemelha a um jogo de barganha, onde os países competem por questões que vão de território e recursos a patriotismo ou estilo de governança. Em vez de ir para a guerra, que é muito cara, os Estados concorrentes preferem resolver essas divergências pacificamente. Num cenário ideal, os dois lados fazem isso com base em suas probabilidades relativas de vencer uma guerra hipotética. Às vezes, isso não é possível e o conflito ocorre.

A guerra é, geralmente, o resultado de um de três problemas. Primeiro, os Estados podem não ter informações suficientes para avaliar suas probabilidades relativas de sucesso. Em segundo lugar, os dois lados podem não confiar que um acordo feito hoje será honrado amanhã. Finalmente, os países podem não conseguir resolver a questão controversa, especialmente quando estão envolvidas tensões étnicas, religiosas ou ideológicas.

De acordo com essa abordagem, as guerras terminarão quando o problema que causou a guerra for resolvido lutando no campo de batalha. Quanto tempo a luta vai durar e a forma que ela toma dependem da extensão e do tipo do problema.

No caso da Ucrânia, parece que os dois lados não tinham informações precisas sobre suas probabilidades relativas de sucesso. O sucesso na guerra é produto de dois fatores críticos: a capacidade de lutar e a disposição de arcar com os custos.

Era evidente que o exército da Rússia era, e é, muito superior ao da Ucrânia em termos de estoques de armas e número de pessoal. No entanto, o que não era aparente para a Rússia até o início da luta é que o povo ucraniano está muito mais disposto a lutar do que se esperava.

A Rússia agora sabe que calculou mal a vontade do povo ucraniano, mas até que ponto ainda não se sabe. O problema é que é difícil para a Ucrânia demonstrar a extensão de sua disposição de arcar com custos, e a Rússia provavelmente desconfiará de qualquer tentativa de comunicar isso, antecipando que a Ucrânia exagerará para obter um acordo mais favorável.

Isso sugere que os dois lados terão dificuldade em resolver o problema da informação. Quando esse é o caso, os países geralmente acabam travando guerras de desgaste que duram até que um lado desista.

Guerras exigem a aprovação tácita e o apoio dos que estão na frente interna. Independentemente do estilo de governo de um país, um líder ainda depende do apoio de um grupo de pessoas, ou coalizão, para permanecer no poder.

Vladimir Putin depende dos oligarcas, da máfia russa e dos militares para sua sobrevivência. Embora Putin tenha tentado construir um baluarte financeiro que lhe permitisse proteger os interesses dos oligarcas, as sanções impostas pelo Ocidente minaram a maior parte de seus esforços.

A guerra já se tornou muito cara para os oligarcas e esses custos só aumentarão com o tempo. Quando um número suficiente da coalizão de Putin se voltar contra a guerra, isso o pressionará a acabar com o conflito ou arriscar sua posição de poder. No entanto, onde está essa linha e se existem alternativas viáveis que melhor atendam aos interesses dessa coalizão é questionável.

Custos da guerra

Em menor grau, Putin depende do apoio da população em geral. O público está arcando com os custos da guerra na forma de inflação, declínio econômico e mortes no campo de batalha.

Até agora, Putin se protegeu desses custos de três maneiras: primeiro, ele emprega um sistema seletivo de recrutamento, que o protege dos custos totais das mortes no campo de batalha.

Em segundo lugar, ele controla o aparato de mídia estatal e censurou outras organizações de mídia, limitando a informação disponível ao público em geral. Terceiro, uma vez que não há eleições livres e justas, não há outra maneira senão a mobilização em massa e a revolução para o povo russo derrubar Putin.

O cálculo para os ucranianos é muito mais simples. A Ucrânia é um país democrático que busca agressivamente a integração europeia. Isso significa que a disposição da população em geral em sofrer diante dos altos custos é de extrema importância.

Sem uma massa crítica de apoio, a resistência aos militares russos desmoronará e a Ucrânia perderá a guerra. A determinação feroz do povo ucraniano até este ponto sugere que isso não ocorrerá tão cedo.

À medida que as táticas russas se tornam mais agressivas, o povo ucraniano está pagando custos cada vez mais altos. Se virmos a disposição do ucraniano médio de sofrer e combater o atraso, isso deve nos causar preocupação. Para este fim, os governos ocidentais intensificaram a ajuda humanitária e defensiva à Ucrânia, a fim de garantir que o apoio ucraniano à guerra perdure.

Em última análise, parece que esta guerra não terminará rapidamente, pois levará um tempo considerável para que um dos lados faça o outro desistir. Ou a transição dos militares russos para o bombardeio indiscriminado de alvos civis consegue erodir a resistência ucraniana, ou as baixas no campo de batalha e os problemas econômicos domésticos conseguem derrotar a vontade da Rússia de lutar.

Nenhum dos resultados é provável nas próximas semanas e meses, o que significa que às pessoas ao redor do mundo resta assistir ao desenrolar dos horrores da guerra e esperar.

Este artigo foi originalmente publicado em inglês no site The Conversation

*Assistente de pós-doutorado em Ciência Política na Universidade de Salzburgo

**Professor-assistente em Ciência Política na Universidade de Nottingham

Fonte Galileu

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