Filme amazonense “O Buraco”, levanta debate sobre violência doméstica

A produção amazonense do diretor e roteirista Zeudi Souza expõe as violências físicas e psicológicos de um homem contra a esposa e o filho.
Através do olhar de uma criança, o terror psicológico “O Buraco” expõe uma realidade que muitas vezes é ignorada pela sociedade. Com simbolismos e comparações, o curta-metragem do diretor e roteirista Zeudi Souza acompanha a violência diária que uma mulher na periferia de Manaus sofre do marido. O filme está disponível, até a sexta-feira (19), no Youtube.
Em 20 minutos, a trama consegue causar uma imersão no cotidiano da mãe e do filho, compartilhando o desespero, impotência e desconforto que eles sentem. Sentimentos que causam inquietação, mas que são um debate necessário.
“O curta cumpre uma função, que é fazer com que quem assista, se sinta tocado. Ele foi feito para incomodar e nos colocar em um lugar de reflexão. E tudo no filme tem seus signos”, explicou o diretor.
Em “O Buraco”, a criança observa através de uma brecha na parede a violência psicológica e física que a mãe sofre do próprio marido, com um contexto que fala de um Brasil atual, segundo o diretor, “literalmente empurrado para o buraco por um governo sem rumo”.
Nos comparativos, Zeudi Souza também explica que o garoto representa um povo oprimido, que assiste uma situação que não pode mudar e, mesmo assim, nutre esperança pela justiça – representada pela mãe e vítima. “As metáforas dentro do filme nos mostram que a democracia sempre vence”, revelou o diretor.
Violência doméstica
Somente em Manaus, 101.364 crimes de violência doméstica foram registrados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), durante todo o ano de 2020, o que inclui ameaça, injúria, lesão corporal, perturbação da tranquilidade e vias de fato.

No interior, os números divulgados pela Secretaria de Segurança Pública apontam que 1099 crimes de violência doméstica foram denunciados às autoridades. Ou seja, por dia, ao menos 284 mulheres são humilhadas, sofrem atos agressivos, são violentadas psicologicamente e são obrigadas a lidar com danos que a perseguirão durante toda a vida.
Entre diversos conceitos e questões morais, o tema principal permanece como a violência doméstica, explícita em cenas de impacto. Essa violência vai desde as brigas na casa, ao sentimento de solidão da criança, sempre trancada no quarto como forma de proteção.
O conflito se desenvolve a partir desse ponto, e de como todas as saídas vão se estreitando em um processo de angústias para a mulher e para a criança.
Em uma das cenas de “O Buraco”, a família ouve o noticiário, que incentiva a denúncia em casos de violência. Como uma forma de conter os pensamentos da vítima, o agressor coloca, em silêncio, uma arma de fogo na mesa.
“O silêncio constante do garoto marca bem a impotência que temos de reagir, ou que as mulheres têm em denunciar os maus-tratos. Então, apesar de todos os abusos, em algum momento ela se torna forte porque é preciso dar um basta”, contou o diretor.
Mesmo que haja um debate sobre a violência doméstica, o Brasil ainda deve percorrer um grande caminho para garantir a segurança dessas mulheres. E a arte cumpre um papel importante em expor essa realidade.
Produção
A equipe técnica de “O Buraco” conta com profissionais de Manaus, cerca de 18 trabalhadores, entre cozinheira, maquiador, produtor, diretor de arte, diretor de fotografia e diretor de som, gerando renda e oportunidades na produção audiovisual.
O projeto foi contemplado pelo concurso-prêmio Conexões Culturais – Lei Aldir Blanc, na categoria audiovisual, promovido pela Prefeitura de Manaus e pelo Governo Federal.
O elenco é composto por Jôce Mendes, Victor Kaleb, Airton Guedes e Daura Caroline, com direção de produção por Claudilene Siqueira, direção de fotografia por Robert Coelho, direção de som por Heverson Batista (Batata) e direção de arte por Aline Guedes.

Fonte: Em Tempo.

 

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