Cecília Meireles, obra Despedida

Despedida
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? – me perguntarão.
– Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? – Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação…
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra…)

Quero solidão.

Despedida está presente no livro Flor de poemas, publicado em 1972. Vemos nos versos nitidademente a procura do locutor do poema pela solidão. Essa busca pela solidão é um caminho, faz parte de um processo.

O sentimento de solidão é uma paráfrase da vontade de morrer, que se expressará no final dos versos quando o eu-lírico afirma “Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.”

A construção do poema é feita com base no diálogo, com perguntas e respostas e um suposto interlocutor do outro lado com quem se estabelece uma comunicação. Uma pergunta que paira é a quem que o eu-lírico se dirige exatamente. No sexto verso vemos, por exemplo, a seguinte questão “E como o conheces? – me perguntarão”. Quem faz a pergunta? A dúvida paira no ar.

Despedida é uma criação marcada pela individualidade, repare no uso exaustivo dos verbos em primeira pessoa (“quero”, “deixo”, “viajo”, “ando, “levo”). Essa sensação de individualismo é reforçada pelo uso do pronome possessivo “meu”, que se repete ao longo do poema.

Fonte cultura Genial.

Ouça o poema Despedida declamado por Diandra Ferreira:

Fonte Yutuber.

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