O fim do horário nobre?

Após revolucionar a indústria cinematográfica, as plataformas digitais investem pesado para conquistar audiência em uma área tradicional da cultura brasileira: as telenovelas.

Que o streaming revolucionou o cinema não é novidade para ninguém. Apesar de as plataformas digitais terem sido criadas há mais de quinze anos, o setor ainda sofre para acompanhar suas inovações tecnológicas. O que pouca gente imaginava, no entanto, é que esse novo formato de consumir entretenimento mexeria também com um dos produtos mais tradicionais da cultura brasileira, um hábito que alcança milhões de pessoas todas as noites: as telenovelas.

Essa já é a realidade e nas cenas dos próximos capítulos veremos que isso será cada vez mais comum. Em vez de obedecer à lógica do horário nobre, que rege o mercado há cinco décadas, o público parece ter gostado da liberdade para assistir o que gosta na hora em que quiser.

Para atendê-los, Netflix, HBO Max e Amazon Prime estão investindo pesado para brigar contra a hegemonia da TV Globo.

A emissora carioca, porém, não pretende entregar o trono com tanta facilidade: a Globoplay, o maior streaming nacional, aplicou o know-how do canal aberto para manter o público cativo.

A primeira novela produzida exclusivamente para a Globoplay foi Verdades Secretas, de Walcyr Carrasco. O sucesso foi tão grande que a produção estrelada pela atriz revelação Camila Queiroz logo ganhou uma sequência.

Curiosamente, quando a versão chegou à TV aberta, na própria Globo, a audiência ficou bem abaixo do esperado é verdade que o horário, à meia-noite e em dias de semana, não ajudou.

Mas a experiência foi considerada positiva e levou a emissora a apostar novamente apenas no streaming com Todas as Flores, atualmente em cartaz.

A novela aquece

No livro A Telenovela e o Futuro da Televisão Brasileira, Rosane Svartman, autora de Vai na Fé, fala sobre o novo cenário. Ela acredita que, enquanto se mantiver fiel à cultura local, a novela não perderá lugar como produto de massa, mesmo quando consumida por meio do streaming. “O futuro da telenovela está nas mãos do telespectador e o futuro da televisão brasileira está nas mãos da telenovela”, afirma a autora. “É preciso preservar o diálogo construído com o público ao longo de décadas.”

Walcyr Carrasco, que assina o prefácio, diz que as novelas ainda são muito presentes em nossa cultura. “Todos nós nos aquecemos em torno dessa chama. Sem a fogueira de antigamente, mas com o calor da imaginação dos autores que contam e recontam os mitos que nos abraçam hoje em dia”, concluiu.

Identidade brasileira

A tradição da Globo é tão grande que, para montar seu núcleo de dramaturgia, a HBO Max foi buscar um talento da emissora. Silvio de Abreu, popular autor de obras como Belíssima e Torre de Babel, supervisionou cinco novelas para a empresa, duas para o mercado brasileiro, e três para Argentina, México e Colômbia.

A demora na montagem do departamento, porém, levou o profissional a romper o contrato de exclusividade com a empresa e a optar por trabalhar obra a obra.

Mesmo com sua saída, a plataforma anunciou o início das gravações de Beleza Fatal, de Raphael Montes. Com Camila Pitanga e Murilo Rosa, já tem 40 capítulos escritos e começa a ser filmada no segundo semestre.

“O núcleo de novelas segue sendo prioridade de extrema importância”, diz Mônica Albuquerque, head de Desenvolvimento de Conteúdos Roteirizados da Warner Bros, proprietária da HBO.

E a Netflix? A líder no segmento, com média mensal de 50 milhões de assinantes, também entrou na guerra pela audiência. Pedaço de Mim, sua primeira produção original, foi criada por Angela Chaves e traz Juliana Paes e Vladimir Brichta (foto abaixo), ambos ex-Globo, como protagonistas.

“É importante que nossas produções tenham originalidade e conexão com a identidade brasileira.”
Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo da Netflix Brasil

O novo cenário inclui ainda as novelas internacionais. Folhetins produzidos em outros países, principalmente no México, não são novidade no Brasil.

Nos anos 1980, títulos como Os Ricos Também Choram e Carrossel, exibidos pelo SBT, eram muito populares.

Hoje a emissora de Silvio Santos firmou parceria com a Amazon Prime para exibir A Infância de Romeu e Julieta em formato híbrido, ou seja, no canal e na plataforma simultaneamente.

Entre as novelas internacionais, as coreanas têm igualmente cativado os telespectadores. Os chamados “K-Dramas” abrangem pouco mais de vinte capítulos, tramas simples e forte carga emocional.

As novelas turcas também têm triunfado: até o final de 2023, a Globoplay disponibilizará nove títulos.

Para não ficar para trás, a HBO anunciou que exibirá a Yargi: Segredos de Família, também da Turquia. Na briga pela atenção do público não há limites e, pelo jeito, nem fronteiras.

 

 

Fonte: IstoÉ

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